A Força de Dispersão de London

 


Entre as forças de Van der Waals – interações sutis entre átomos que contribuem para moldar o universo a partir da estrutura molecular – uma das mais intrigantes é a Força de Dispersão de London (LDF). O nome não se refere à cidade de Londres, muito menos ao Brexit, mas é uma homenagem ao físico alemão Fritz London. A LDF é uma força discreta, presente em todos os átomos e moléculas, que pode promover inclusive a atração entre partículas neutras. 

A Força de Dispersão de London é uma interação que pode causar atração temporária entre átomos ou moléculas neutras, revelando princípios profundos da natureza. Para compreender essa força discreta, tomemos o átomo de neônio como exemplo.

Composto por 10 prótons e 10 elétrons, o neônio é um átomo “equilibrado” que, em princípio, não busca ligações externas com outros átomos. No entanto, como todos os átomos, ele é envolto por uma ‘nuvem eletrônica – uma região onde é mais provável encontrar elétrons, mas é possível também que eles se movam em posições diferentes e aleatórias, podendo gerar um leve desequilíbrio momentâneo, já que não estariam em suas posições mais prováveis e preferenciais para o melhor equilíbrio do átomo e sim agrupados todos mais um uma região. Essa movimentação ocasional dos elétrons pode concentrar temporariamente a carga em uma área, criando uma polarização passageira, visto que mais eletrons de carga negativa ocuparão determinada região, enquanto em outra haverá uma ausência. Essa leve polarização faz com que o átomo de neônio, que é internamente equilibrado, atraia e seja atraído por outros, mesmo que apenas por um instante. Essa atração é denominada Força de Dispersão de London.

Essa força discreta revela algo interessante sobre a natureza: até mesmo as entidades mais equilibradas e neutras buscam conexão ocasionalmente, como se precisassem se harmonizar com o que está ao redor. Podemos enxergar nisso um comportamento que conduz à humildade em nossa vida humana – até os mais estáveis, devido a inquietações momentâneas, sentem a necessidade de se conectar com os outros visando o balanceamento de emoções ou situações. Para todos os “pedaços” da natureza, inclusive para nós humanos, existirão momentos em que a conexão com o outro produz um equilíbrio maior, além de nossas fronteiras individuais e esse reconhecimento nos faz compreender que não somos totalmente autônomos.

Os estudiosos do I Ching, ao comentar o hexagrama da Influência Mútua, afirmam que “não pode influenciar os outros aquele cuja natureza interna é imune à influência”. Os sábios da antiguidade chegaram a essas conclusões sem conhecimento de química ou física, apenas observando as interações humanas e as dinâmicas da natureza. Essa sabedoria sobre a influência mútua é sem dúvida a regra geral, enquanto a Força de Dispersão de London, talvez uma exceção à regra de neutralidade, mostra que até mesmo o neônio, um gás “nobre”, não é imune a influenciar e ser influenciado em determinadas situações.

A LDF é uma força sutil e relativamente fraca, mas seus efeitos se tornam mais perceptíveis quando outras forças estão ausentes ou neutralizadas. Por exemplo, em átomos maiores com mais elétrons, essa força cresce, e em temperaturas muito baixas, a energia cinética das partículas diminui, permitindo que até a pequena LDF se sobressaia. É por isso que gases nobres podem se condensar e se tornarem líquidos em temperaturas próximas do zero absoluto, onde as interações de dispersão prevalecem. Como disse Schopenhauer, “as grandes dores fazem com que as menores mal sejam sentidas; e, na falta das grandes, até a menor nos atormenta” – assim, em condições extremas, até a mais leve atração se torna significativa.

Quando uma molécula ou átomo se torna polarizado, ele também provoca uma polarização em seus vizinhos. Nenhum átomo, nem mesmo o equilibrado neônio, pode isentar-se de influenciar o que está à sua volta. Da mesma forma, nós, seres humanos, por mais independentes e neutros que nos consideremos, inevitavelmente influenciamos nosso entorno devido a rearranjos internos e devemos ter consciência de nossa responsabilidade na interação. Vivemos em um universo interconectado, onde nossa capacidade de influenciar os eventos depende do entendimento de que nosso impacto é real e tangível.

No universo, há uma tensão entre a ordem imposta pelas leis determinísticas da escala macro e a aleatoriedade das interações na escala micro. O ser humano encontra-se precisamente nesse ponto intermediário, tentando compreender as forças que governam tanto o grande quanto o pequeno. Na escala macro, estamos sujeitos a forças determinísticas; na escala micro, existe espaço para a aleatoriedade, que traz possibilidades de mudanças e transformações. Esse balanço entre ordem e liberdade reflete tanto nas leis da física quanto nas escolhas humanas, dando-nos a possibilidade de trilhar um caminho onde a interconexão e a harmonia prevaleçam. Assim, podemos encontrar equilíbrio ao buscarmos resultados que considerem o bem-estar próprio e o coletivo, ampliando a harmonia ao nosso redor.

Nosso senso de individualidade, às vezes, nos leva ao egoísmo, que surge quando ignoramos nossas conexões com o que nos rodeia. Egoísmo é, na realidade, uma falta de reconhecimento dessas interconexões. Muitas vezes, limitamos nossos horizontes, priorizando apenas a família, a cidade, ou o país, enquanto esquecemos que nossa existência finita está intrinsecamente ligada ao infinito. Se ampliarmos nosso campo de visão e pensarmos além de nós mesmos, descobrimos uma das belezas da condição humana: a capacidade de escolher agir refletidamente tanto a favor ou contra a correnteza. Liberdade que apenas um ser racional e sentimental pode alcançar. (preocupação com as AIs tomarem sempre o lado mais racional, serem um Spock com poder de influenciar nossas vidas e decisões.) Sem sentimento real, o quão menos humano o mundo progressivamente se tornaria? E como ensinar sentimento para uma entidade não biológica. A linguagem pode ser a ponte, mas de onde até onde exatamente? Boa capacidade relacional pode conduzir nós humanos a ações que transcendem o interesse individual, permitindo contribuições para o melhor desenvolvimento de uma história maior. Por reflexo, entendemos cada vez mais sobre nós mesmos e quais histórias maiores conseguimos abranger. 

Talvez a maior lição que possamos extrair dessa reflexão seja o valor da conexão. Assim como inclusive os átomos mais estáveis se unem para ampliar o equilíbrio, podemos alargar a harmonia universal ao estender nossa influência de maneira consciente, equilibrada em sintonia com o todo. 

Quando compreendemos que tudo está interconectado, nossa responsabilidade de contribuir para o bem comum se torna mais clara. É nesse equilíbrio – nem totalmente presos ao determinismo, nem entregues ao caos – que encontramos a liberdade possível. Trata-se de um balanço delicado, que pede  atenção e dedicação constantes ao bem-estar coletivo e uma visão que abranja o conjunto ( que tende a crescer). Ao aproveitar essa oportunidade única, podemos trilhar um caminho que une sabedoria, pausas e ações em momentos chaves, expandindo nossa capacidade de construir um futuro mais harmônico e pleno para máximo número de pessoas , alto IDH, para, além de tornar promissor nosso futuro, serem o presente que o universo espera de nós: Sermos seu sensos, olhos, e ouvidos, narizes bocas e pele, senso racional, incluindo o sexto sentido, senso sentimental, emocional, social e político, com pontos cegos pelo caminho evolutivo trilhado por todos os animais em nossa linha evolutiva, e parte importante da estrutura consciente do cosmos se, a cada tamanho ela for sensível à nossa potência de emissão. 

Todos que estão vivos agora têm algo em comum: Seremos os últimos humanos, realmente humanos a viver na Terra e isso nós reúne. 

Agora mais do que em qualquer momento da história, precisamos nos coordenar de modo  eficiente, pensando no equilíbrio para além das fronteiras. Esse é o momento em que deixaremos nossa última assinatura como espécie, e cada um de nós já é imortal para o entendimento do futuro da humanidade, justamente por sermos os últimos mortais e vivermos na época em que o avanço tecnológico permite conexão e registro instantâneos. 

No futuro, muitos personagens serão importantes para determinar os designios dos acontecimentos: quem teve milhares de descendentes, terá percentagem maior do que a maioria que não; quem por certo tempo reinou e decidiu destinos também; quem ajudou a iluminar os demais em tempo de transformações drásticas, podendo ser quase imperceptíveis; ou até quem registrou suas impressões sobre esse tempo único, que será interesse em todos os desdobramentos possíveis porque é a dobra, a dobra da curva exponencial tecnológico onde nós tornamos uma série de tipos diferentes, senão com um chip implantado na cabeça, mas no mínimo sob influência de treinamentos de otimização por AI. 

Aqui é Humano raiz! Terão que pesquisar dessa época para trás. Textos cem por cento humanos, com cem por cento de certeza, só do século passado. Nessa época o estilo que se vampirava era apenas entre humanos. Agora bateram o caldo do melhor no liquidificador e cada um pode construir junto a AI, com escrita elegante qualquer cenário imaginável. O mundo será dos corajosos e dos criativos, que busquem equilíbrio depois de um avanço bem sucedido e pratiquem o debate sobre a ética e a melhor maneira  de se reconhecer e remunerar todos os que contribuíram na cadeia de acontecimentos que gerou a prosperidade. 

Comentários

  1. Excelente texto. Tópico moderno e fundamental. Vejo poucas pessoas tentando entender os motivos do individualismo. Ou em quais sociedades ele é mais proeminente. Isso poderia ajudar aos nobres políticos individualistas ao extremo a melhorar um pouco sua ínfima e desequilibrada vida pública

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  2. Legal que curtiu ! E captou a essência do que tentei transmitir !

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