America First, but lonely !!!

    


 

        O atual presidente americano coloca os EUA em um caminho de difícil reversão. Todos hoje desconfiam de parcerias com os americanos e planejarão reestruturar suas economias e comércios para se verem cada vez menos dependentes de quem não é digno de confiança. O primeiro passo será a negociação para minimizar o prejuízo, depois o afastamento gradual, enquanto se trabalha numa difícil, mas necessária reorganização. Trump fará com que boa parte das pessoas não apenas rejeite os EUA, mas produzirá uma aversão ao seu povo e a seus produtos. 

      O comércio estável e duradouro entre nações não pode ser tratado com a leviandade de quem remarca preços em uma quitanda. Ameaça quebrar a economia países em desenvolvimento com fins obscuros e a impor ao seus melhores parceiros um caminho árduo, bem quando solta propositadamente a mão deles no aspecto militar, promovendo aumento das tensões e militarização global. Não sabe desfrutar do real privilegio de governar uma potência. Talvez deseje que Europa e Rússia se desgastem e os EUA retornem a condição vantajosa do pós segunda guerra. Porém, os tempos são outros, o mundo apresenta uma multiplicidade de nações em destaque e a capacidade de reorganização é muito maior.  O medo que induz essas ações na verdade atrairá o cenário que mais temem. 

      Trump e outros líderes nefastos utilizam o poderio militar e econômico para destruição, assim lucram sem medidas. Querem invadir, tomar territórios, roubar recursos naturais, guerrear para emprestar dinheiro para armas e futura reconstrução. Tudo parte de uma estratégia mesquinha, quando em cooperação poderíamos entrar numa era de ouro; escorregando na curva exponencial tecnológica da maneira mais cuidadosa e bem planejada possível, já que os perigos são muitos. Mas estamos na contra mão disso. Poderiam muito bem lucrar estabelecendo políticas interessantes, mas preferem essa tática gananciosa e suicida.

        Políticos americanos costumam denominar a América Latina de seu quintal, mas a grande pergunta é: o que já floresceu nesse quintal?  No do principal concorrente estão os países da Indochina e os tigres asiáticos desenvolvendo a passos largos, mesmo com uma ou outra consideração a se debater.   

     Não bastasse o transtorno que os EUA causaram ao mundo devido ao medo provocado pela Guerra Fria e à ganância nas últimas décadas: implementação de ditaduras em toda a América Latina; aniquilação de Iraque, Síria, Afeganistão, guerra no Vietnã; auxílio na sustentação do conflito Israel x Palestina; interferência no regime Iraniano, antigo parceiro, a ponto de contribuir para instalação da teocracia que há décadas reprime o povo iraniano. Mas, talvez o único meio encontrado para se protegerem das incansáveis interferências. 

Sem mencionar a militarização global consumindo recursos de várias nações de onde seria bem mais interessante aplicar, promovendo ondas de nacionalismo exagerado. Agora, países como Japão e Alemanha, que haviam se distanciado da corrida armamentista desde a Segunda Guerra, aceleram na via contrária. 

Atualmente, as guerras de procuração visam alimentar as piores indústrias: energética poluente, extrativista, armamentista e de vigilância, enquanto líderes desequilibrados brincam com vidas humanas; por paranoia, revanchismo, ou estratégias de quem pensa apenas localmente. Menosprezam o risco de algo escapar ao controle e blefam com a possibilidade de uma terceira guerra.

Além de tudo isso, assistimos a discriminação e injustiças com imigrantes, mesmo legais há décadas. Talvez se esqueça que no caldeirão formador da grande América, eles foram parte essencial. Os casos problemáticos podem ser tratados com a justiça necessária, mas de maneira humanitária e não populista para extremistas.

Trump esnoba e trata mal representantes de países que sempre foram aliados ou parceiros comerciais; deseja bajulação externa para convencer o público interno de que não está cometendo uma  insensatez com consequências prejudiciais de longo prazo. Além disso, ameaça invadir território alheio, como no caso da Groenlândia ou anexar o Canadá. Um completo devaneio. Brinca com a fragilidade de quem tenta se desenvolver, apesar de todas as dificuldades já impostas no passado ao crescimento desses países, como pagamentos de juros abusivos de dívidas que nascem com a independência, por exemplo. Agora ameaça taxar Europa, Brasil e México. Todos casos absurdos, mas, no brasileiro, uma flagrante injustiça, uma chantagem por interferência política e também uma tentativa estabanada de proteger grandes empresas americanas de tecnologia, e financeiras. Dois coelhos numa burrada só.

   Os EUA perderam e perdem a oportunidade de serem o motor de desenvolvimento do mundo, de fazer o povo americano querido e respeitado como merece, enquanto lucram de maneira leal e justa auxiliando outros a se desenvolverem. Muitas vezes inclusive emprestando recursos para infraestrutura para quem necessita, gerando uma onda construtivista onde ambas partes são beneficiadas, uma financiando, e recebendo a remuneração e a outra expandindo sob influência e participação.  

Apesar de todo nosso desgosto em assistir um homem tão equivocado com tanto poder, não podemos culpar a população. Eles pensam viverem em uma democracia, mas se veem limitados a escolher entre opções frágeis, de quem envelhece no poder e inibe renovações ou radicais reacionários, nenhuma delas realmente representando os anseios populares. Ao menos eles e nós, que vivemos essas democracias deformadas pela força de interesses de pequenos grupos poderosos ou grandes empresas, temos, ainda, o direito a livre manifestação e podemos combater o mal com inteligência e coordenação. 

    Agora, novamente desejam interferir na vida política e econômica brasileira, parceiro que há quase duas décadas fornece a eles superávit na balança comercial. Transformam a regulação tarifária em outra forma de porrete. Intitulam-se líderes do "mundo livre", mas enfraquecem o valor da democracia internamente e incentivam regimes autoritários em outras nações. Não lutam para que o ideal prevaleça; perseguem apenas o interesse econômico de momento na ilusão de que não haverá consequências. 

     Há uma frase atribuída a Kissinger (ou talvez a De Gaulle) que captura bem o dilema: “Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal.” O Brasil, há anos parceiro comercial e diplomático dos EUA, sente isso na pele: sofre tarifas, humilhações e chantagens. A proximidade, ao invés de proteção e parceria, trouxe vulnerabilidade.

     O nosso caminho será difícil, mas, caso esse cenário tarifário se concretize, o melhor será, com calma, procurar preencher as lacunas com outros parceiros comerciais; trazer indústrias tecnológicas para cá mediante incentivo; e substituir a dependência de produtos americanos por outros, seja IA, sistemas operacionais, automóveis ou qualquer outra commodity.

  A globalização agora se "desglobaliza". Nacionalismo, militarismo, autoritarismo, desrespeito, xenofobia, controle rígido das populações mediante vigilância estão em alta. Tensões e guerras por todo o globo. Mas, num mundo onde é impossível não errar, é preciso ao menos se associar a quem está menos equivocado.

    A arrogância e o pedantismo, associados ao perigo que o presidente americano representa para o mundo, junto a outros maníacos, como o presidente russo, e alguns outros líderes de péssima qualidade, nos colocam diante desafios complicadíssimos. Uma safra terrível de lideranças atrasa nossa evolução rumo a um período prospero para todos. Porém, a humanidade já sobreviveu a eventos piores e personalidades tão prejudiciais quanto as que hoje governam países importantes. 

Caso, nos próximos anos, escapemos as turbulências geopolíticas e ao colapso nuclear com o qual brincam, pode ser que essas pessoas sejam vistas no futuro da mesma maneira que enxergamos Hitler hoje. Pode parecer exagero, mas os descuidos, a insensatez, o desrespeito a países menores, a onda de xenofobia e o acirramento de tensões em diversos pontos contra outras potências emergentes apresentam similaridades com o que antecedeu as grandes guerras. A questão comercial é apenas a ponta do iceberg, falas e movimentos geopolíticos arriscados e injustos, assim como tratamento desumano em regiões de conflitos e contra imigrantes, são indicadores de uma tendência muito problemática num futuro próximo. Provavelmente, esses líderes e seus descendentes sejam lembrados e cobrados pelo mal que agora é produzido, nos aspectos comerciais, militar e humanitário. 

Ainda cogitam prêmio Nobel da paz para quem apenas produz desavenças, injustiças e guerras; e que chega ao ridículo de assistir a bombardeios fazendo comentários grotescos, enquanto destrói covardemente por vídeo game. Os Houthis podem até merecer retaliação pelo ataque que perpetraram, mas não a interjeição descabida do chefe de Estado da nação mais poderosa. 

      Quanto a nós, teremos que nos adaptar:  

    Zerar impostos para atrair indústrias relacionadas a tecnologia de outros países para o Brasil é uma medida urgente. Agora, devido a tensões em várias regiões um momento estratégico se apresenta. Paralelamente, é necessário realizar uma revolução na educação para abastecer os postos de trabalho que surgirão com mão de obra qualificada e não deixar tudo no controle estrangeiro. O número de brasileiros empregados, inclusive em altos cargos, deve ser negociado previamente.

    Idealizei um projeto educacional voltado a esse objetivo, disponível neste link: 

https://legallance.blogspot.com/2024/12/projeto-educacional-versao-completa.html

    Hoje, os meios digitais permitem acelerar esse processo. O Ministério da Educação pode assumir o papel de coordenador de um grande programa complementar à educação tradicional, aproveitando plataformas tecnológicas e parcerias estratégicas.

    Fortalecer cada vez mais laços com outros países, UE e o BRICS. Diversificar moedas no comércio internacional para não ser dependente de nenhuma.  Tentar junto a outros prejudicados no momento, negociar produtos que serão afetados. 

  Realizar a transição com a tranquilidade que for possível, renegociar, com humildade e firmeza, enquanto infelizmente aguentamos o baque econômico e nos reorganizamos. 

Autoridades brasileiras, nesse momento, também devem pesar suas declarações e agir sabiamente. Podemos até progressivamente substituir o dólar, mas não é necessário manifestações sobre um tema que apenas enfurece quem tem força para nos desestabilizar, sem ganho algum. O líder chinês é um bom exemplo, fala pouco e age com eficiência. Estratégia ideal para um cenário no qual o atrito já é gigantesco por si só.  Nenhum país é santo, todos agem segundo interesses, mas há uma grande diferença entre o entendível e o inaceitável. 

    A tentativa foi de interferência política, entre outros objetivos obscuros, mas dessa vez o tiro pode sair pela culatra, porque ninguém, nem nenhum país, é absoluto. Diante das ameaças, o mundo pode reencontrar caminhos de cooperação mais equilibrados. Outros horizontes estão se abrindo, e existem muitos  sofrendo com o mesmo tipo de insensatez que podem se coordenar para enfrentarem a adversidade unidos. O final da grande e potente América pode ser mais solitário do que se pensa.

    Nenhuma via única pode ser a certa.

"If there is no other side, you have missed the entire point of the world."

Comentários

  1. Glauco, esse foi na medida certa! Parabéns. Tem outra atribuída ao Kissinger, que também se aplica "Os Estados Unidos não têm amigos, apenas interesses".

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa, na verdade as nações se movem por interesses, mas eles podem ser construtivos. Valeu a leitura e comentário.

      Excluir
  2. Muito bom! Entre guerra fria e paz quente, o mundo se reconstrói, novamente.

    ResponderExcluir
  3. cai meio de paraquedas nesse blog em uma pesquisa do google. Concordo contigo. Faço uma ressalva. Isso que o Trump está fazendo não é nada novo, todos sempre fizeram isso, ele só deixa mais evidente. Você mesmo registra isso no texto. Apesar de não ser uma figura positiva, reconheçamos que é um mérito do Trump, a transparência. Os outros também são canalhas, mas pousam de mocinho. Apesar do sofrimento, temos a oportunidade de ver as entranhas do poder como nunca antes foram mostradas. Você concorda comigo LanceLegal?

    ResponderExcluir
  4. Sim, concordo; isso já vem mañhado antes de nascermos. Trump só tornará impossível não enxergar.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Canto para a nossa morte!

A Astrologia sob a Lente da Razão e da Poesia

Amar é...

O treinamento da sétima função

A Força de Dispersão de London

Projeto educacional

Miscético

Sessão Pipoca (parte2)

Abundância!