Vioallien
A vida
inteligente fora da Terra, embora provável, dada a imensidão do Universo,
possivelmente acontece muito distante de nós para o contato. A principal razão são as vastas distâncias
envolvidas. Por exemplo, se o Sol deixasse de existir neste exato instante, só perceberíamos
oito minutos depois, devido ao tempo da causalidade — a maior velocidade com a
qual a informação pode trafegar. Esse último raio de luz levaria oito minutos
para nos alcançar. No caso da estrela mais próxima, Alpha Centauri, o tempo
seria de aproximadamente quatro anos. Ou seja, para chegarmos até essa estrela,
demoraríamos quatro anos viajando à velocidade da luz, uma velocidade que, para
nós, ainda é um limite teórico e (físico) inalcançável. Mesmo com avanços tecnológicos,
estaríamos longe de superar esse limite físico, e, se conseguíssemos,
enfrentaríamos outros desafios, como desviar de objetos no caminho a
velocidades extraordinárias.
Além da dificuldade de alcançar a estrela mais próxima, o contato direto com outra forma de vida inteligente demandaria que viajássemos para ainda mais longe. As condições para a vida, como conhecemos, depende de uma série de fatores: tipo e tamanho das estrelas, características do sistema planetário, e localização e composição dos planetas ao redor. Encontrar condições próximas às da Terra ou favoráveis exigiria que viajássemos para ainda mais longe e enfrentássemos um nível de risco e dificuldade incomensurável. Em resumo, não é impossível, mas sim extremamente desafiador e muito demorado. Esse tipo de deslocamento seria, provavelmente, uma tarefa para naves que carregassem várias gerações de uma civilização, levando milênios para alcançar seu destino. O tipo de contato mais provável que poderíamos pensar é justamente a ideia central do filme Contato, baseado no livro de Carl Sagan.
Outro ponto essencial a ser lembrado é que todo o mundo físico, em sua vasta diversidade, se autoconstrói devido às características derivadas das leis fundamentais e dos elementos básicos. As estrelas, por exemplo, seguem um ciclo previsível, queimando hidrogênio e evoluindo através de estágios de fusão de elementos como hélio, carbono e oxigênio até chegarem ao ferro. Este processo ocorre de forma constante em todo o cosmos, um reflexo das leis físicas que moldam a matéria. Isso nos leva à ideia de que, embora existam inúmeras possibilidades para a manifestação da vida, a vida baseada na química orgânica — como a conhecemos — é possivelmente a mais abundante. Isso se deve à prevalência dos elementos básicos e ao carbono, um elemento leve e interessante por sua capacidade de se ligar a até quatro outros átomos, permitindo assim a formação de longas cadeias complexas, derivada de química abundante, resultado da tensão entre gravidade e entropia. A formação desses legos básicos permite a vida mais fácil. Por isso cientistas pesquisam atmosferas de exoplanetas buscando por assinaturas delas. Os legos, possuem a tendência de se arranjar de maneira a produzir evolução ao buscar equilíbrio. A vida é a descrição de parte dessa evolução. Nela, as múltiplas possibilidades concorrem entre si em ambientes diversos, gerando ainda mais combinações.
Essa
flexibilidade atômica do carbono é, especialmente importante, já que possibilita a formação de moléculas
diversificadas e complexas, favorecendo o desenvolvimento de sistemas
bioquímicos. Por isso, é plausível imaginar que, em algum lugar do universo,
moléculas análogas ao DNA e RNA possam surgir e resistir para armazenar e por espelhamentos conseguir transmitir
informações genéticas — mesmo em condições muito diferentes das da Terra. Em
ambientes com outros solventes, temperaturas extremas ou diferentes composições
químicas, a vida poderia ainda adotar sistemas eficientes para codificação
genética, adaptando a estrutura das moléculas informacionais conforme o meio.
Diante dessas barreiras e similaridades universais, podemos imaginar que comportamentos como os nossos possam surgir em outros pontos do cosmos. Um exemplo fascinante seria o desenvolvimento de um instrumento musical similar ao violão — ou algo próximo disso. Essa especulação não é tão improvável quanto parece. A ideia é possível porque as leis da física e da matemática, que regem o funcionamento dos sons e das frequências, são as mesmas em qualquer lugar do universo. (ou pelo menos assim parecia por longo tempo, hoje se analisam densidades. Épocas e regiões com características um pouco diferentes)
É possível, através da compreensão das
propriedades dos harmônicos ilustrar essa hipótese. Os
harmônicos não são exclusivos da Terra; eles são uma característica inerente a
qualquer fenômeno de onda. Quando uma corda é esticada e vibrada, ela gera um
conjunto de frequências que se organizam em padrões específicos e previsíveis.
Cada comprimento de corda produz um tom, cada espessura altera sua frequência.
Esses princípios são matematicamente universais e independem do planeta ou da
espécie que os descobre.
Assim, se um
ser alienígena esticar uma corda ou experimentar sons em objetos vibrantes,
ele começa a notar padrões semelhantes aos nossos. Ele descobriria que
cordas mais grossas produzem tons graves e que os pontos de toque ao longo da
corda — conhecidos como nós — criam frequências diferentes. A descoberta de
tais padrões e a exploração dos harmônicos são possibilidades que não estão
limitadas a um ponto específico, mas parecem cobrir todo o universo observável. Assim, experiências similares as nossas poderiam conduzir esses seres a criar algo como o
nosso violão.
Considerando a evolução biológica, podemos especular que seres inteligentes, de outros planetas, desenvolvam adaptações para ouvir e criar sons. A capacidade de audição favorece a comunicação, e seres com membros — ou algo que funcione como mãos e dedos — podem desenvolver maneiras de manipular o ambiente ao seu redor. Em nosso caso, isso nos permitiu construir ferramentas e instrumentos; para eles, a experiência pode ser similar. Por outro lado, suas características poderiam ser bem diferentes das nossas. Quem sabe possuam apêndices flexíveis que permitem um controle de vibração muito fino, ou dedos que possam esticar como cordas, capazes de modular sons ao toque. De um jeito ou de outro abraçariam sua viola.
Mas será que
eles veriam valor em criar um instrumento como o nosso? Possivelmente. A
combinação de matemática e física que define a propagação de ondas e a harmonia
dos sons pode despertar curiosidade e o prazer estético, características que
tendem a aparecer em seres com inteligência e sensibilidade, e se manifestam na arte, de maneira intuitiva mas ressoando com tudo o que envolve a beleza, inclusive a evolução natural e suas características vibracionais. Assim como nós,
poderiam também associar o prazer estético aos padrões universais e à beleza do
som e dos arranjos.
Com base
nesses princípios, é possível imaginar que esses seres desenvolvessem algo como
o nosso violão — ou um “Vioallien”, um instrumento que, mesmo não sendo
idêntico, tocaria as mesmas leis naturais que regem o som. O Vioallien, em sua
essência, seria uma expressão desses padrões universais, com diferentes
comprimentos e espessuras, gerando uma rica variedade de sons. Imagine uma
civilização alienígena descobrindo, ao longo de gerações, que ao variar a
espessura, o comprimento e a tensão de cordas vibrantes, eles podem criar notas
musicais e experimentar algo semelhante à música.
Essa experiência poderia transformar-se em arte, uma forma de expressão pessoal ou coletiva. Como nós, esses seres poderiam perceber que, ao tocar um instrumento, expressam emoções e ideias, tornando-se capazes de compartilhar uma espécie de linguagem universal através da música, que vai além das palavras e se permite, de vez em quando, organizá-las de maneira especial.
Imaginar que, em algum ponto do universo, um E.T, movido pela curiosidade, pode experimentar uma descoberta musical semelhante à nossa, parece bobo de tão fascinante que é. Pressionam uma corda e sentem a mesma satisfação que nós sentimos ao criar ou reconhecer uma nota. Descobrem, no prazer da vibração, um eco de uma experiência que acreditávamos única da humanidade, mas que, no fundo, pertence ao próprio universo e está semeada por todos os lugares. Se destruirmos a Terra, o prejuízo será apenas nosso. A vida e o potencial para ela permitirá que ela ecloda e evolua a cada pondo. É paradoxal, bem no momento em que conseguimos entender boa parte das leis e do funcionamento de tudo e temos todas as condições de evoluir e resolver nossos maiores problemas, é que possamos nos destruir.
Embora ainda não tenhamos contato direto com esses seres, é lírico pensar que a música — guiada por leis físicas universais — poderia criar uma ponte entre civilizações que nunca se encontraram. Em Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de Steven Spielberg, o contato com uma civilização alienígena se dá através de uma linguagem universal: a música, algo que conecta seres de origens e contextos completamente diferentes. Talvez o universo, em sua vastidão silenciosa, ressoe de sons de civilizações distantes, cada uma tocando as cordas de seus próprios ‘Vioalliens’, compondo uma sinfonia cósmica que permanece inaudível, mas que une mentes curiosas em harmonia de ideias. Como previa Platão, o conceito existe desde sempre, esperando apenas ser concretizado em alguma parte do universo material.
Que legal!!! Parabéns pela iniciativa!
ResponderExcluirObrigado !!!
ResponderExcluirO seu Vioallien da escrita tem uma música leve e precisa. Vale lembrar que a sonda Voyager leva música “da boa” para os alienígenas apreciarem. Pena aqui aqui na terra, as cordas tem sido escolhidas pobremente… e a qualidade musical atual vai afastando nossas chances de sermos “descobertos” :-) Mais um texto maravilhoso.
ResponderExcluirBoa lembrança da Voyager, disco de ouro, rs
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