Parindo o homem

Na aparente tranquilidade do universo primordial, no infinito mar de potencialidades que antecedeu ao tempo, apenas as vontades existiam. Elas viviam por um doloroso e incompreensível instante e logo se dissolviam no nada. Jamais geravam acontecimentos. Eram como pensamentos soltos e desconexos, sem pertencer a tempo ou lugar. O maior desejo de cada vontade, de cada embrião de pensamento, era descobrir e conhecer profundamente todas as outras. Os meios materiais, no entanto, ainda não existiam. O intercâmbio de sensações e informações era impossível. Todas as vontades buscavam uma orientação, mas não fluíam, nem convergiam com liberdade. Os infinitos arranjos tornavam complexa a realização do sonho secreto e comum. Na ausência de soluções, uma forte opressão era gerada. A imposição de quietude provocava uma grande instabilidade no nada. Potencialidades permaneciam eternamente sendo tudo o que poderiam ser, mas sem jamais se tornarem al...