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Mostrando postagens de janeiro, 2025

O uso do conhecimento na era digital

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                                                         Outro dia, assisti a um bate-papo interessante entre João Ubaldo Ribeiro e Fernanda Torres, no qual ele argumentava mais o menos o seguinte: no passado, o conhecimento era um privilégio restrito àqueles que tinham acesso a livros raros, enciclopédias, grandes bibliotecas e círculos intelectuais exclusivos. Os eruditos se destacavam não apenas pelo que sabiam, mas também pelo que os outros não tinham como saber. A posse da informação é que os posicionava no topo da pirâmide. Eu sempre tive a impressão de que alguns ostentavam esse saber com certo pedantismo, enquanto os verdadeiramente sábios dominavam o conhecimento, mas nem sempre encontravam com quem dialogar. De qualquer forma, quem possuía informação ou dominava vários idiomas tinha um status diferenciado na...

O Fluxo dos Grãos

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O Espaço é Contínuo ou Granular? Se há algo que a história da ciência nos ensinou, é que, cada vez que acreditamos ter uma compreensão definitiva da realidade, novas descobertas desafiam nossas certezas. Desde os gregos, que questionavam a divisibilidade da matéria, até os físicos modernos explorando as leis quânticas, a estrutura fundamental do universo sempre instigou a mente humana. De lá até aqui, evoluímos na compreensão de muitos aspectos, mas o espaço, em particular, sempre foi um mistério. Newton o via como um palco absoluto, Einstein o transformou em um tecido flexível, e a física quântica agora nos força a questionar se ele sequer pode ser descrito da maneira como o concebemos. Seria o espaço contínuo ou granular? Podemos dividi-lo infinitamente ou, em sua essência mais profunda, ele é feito de blocos mínimos e indivisíveis? Ao longo do tempo, a ciência nos mostrou que muitas grandezas que pareciam contínuas são, na verdade, discretas. A energia, por exemplo, foi considerad...

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Superstição é aquela coisa que todo mundo finge que não acredita, mas que, na hora do aperto, dá uma espiadinha de canto de olho. A ciência pode até nos dizer que não há fundamento algum em bater na madeira três vezes, evitar passar debaixo de escadas ou temer um gato preto, mas, em doses saudáveis, seguir uma tradição popular ou confiar em um pressentimento pode nos ajudar a resolver impasses, evitar caminhos incertos e, no fim, nos dar mais confiança para transitar pela vida. A verdade é que, como seres finitos e atirados ao mundo sem manual de instruções, vamos tateando a existência com as ferramentas que temos. Algumas delas são absolutamente racionais – como a matemática, a lógica e a observação empírica. Outras são mais místicas. São sinais, pequenas coincidências que, na nossa cabeça, vão costurando um significado particular para as situações. Nosso cérebro, inquieto, tece conexões entre eventos, mesmo quando elas não existem. Um guerreiro ancestral vencia a caça depois de e...

O pacto e as fendas !!

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  Grande Sertão Veredas é um livro que se lê com o corpo todo. Não basta os olhos percorrerem as palavras; é preciso deixar que a prosa de Guimarães Rosa desloque a respiração, desarrume certezas, infiltre-se pelos sentidos. A princípio, parece um monólogo—um sertanejo contando causos—mas logo se revela um redemoinho filosófico, um abismo de perguntas e constatações onde fé e dúvida, guerra e amizade, amor e pacto se entrelaçam sem promessas de resposta. O sertão aqui não é apenas geografia. Não se resume ao cerrado, ao rio seco ou às veredas que serpenteiam pelo meio da paisagem da região central do país. Ele é metáfora, palco onde se encenam os dilemas humanos em estado bruto. Riobaldo, o jagunço que narra sua própria travessia, oscila entre homem comum e filósofo sem livros. Alguém que a vida e as experiências maturaram bem e que, em sua jornada por diferentes idades, comportamentos e posições sociais, nos faz acompanhar não apenas a formação de um indivíduo, mas de um povo...

Meia Peperoni; Meia Portuguesa; com acréscimo de Absurdo !!

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  Dizem que o mundo nunca foi tão absurdo. Mas não seria um absurdo dizer isso? Imagine contar isso a alguém que viveu na Idade Média, no meio de uma peste ou, pior, sem Wi-Fi. Eles provavelmente responderiam: "Absurdo é não ter pão!" Mas, para quem cresceu antes dos celulares e hoje vive cercado por assistentes virtuais e algoritmos que sabem o que você quer antes de você e tentam te controlar... bom, absurdo parece o termo certo. O movimento teatral que floresceu na metade do século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, no qual as peças exploram a falta de sentido da existência humana em um mundo caótico, desconectado de lógica ou propósito, foi denominado teatro do absurdo . Trata-se de um gênero que surgiu  inspirado pela falta de sentido  provavelmente  ampliado na guerra fria após os dois grandes conflitos mundiais, mas parece ter se teletransportado para a vida moderna. Nele, personagens buscam desesperadamente uma orientação num mundo que insiste e...

Toma lá,da cá !! Tit for Tat

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  As relações entre todos os seres, incluindo as humanas, se sustentam em um delicado jogo de trocas. Damos algo, recebemos algo. Às vezes, esperamos uma reciprocidade direta; outras, uma resposta tardia, mas ainda assim justa. Esse equilíbrio entre ajudar e recusar, entre confiar e proteger-se, é tão antigo quanto a própria ideia de comunidade. No entanto, em um mundo onde o altruísmo — a entrega sem esperar nada em troca — raramente reina soberano, a cooperação frequentemente emerge de lugares inesperados, sustentada não por pura bondade, mas por regras básicas de sobrevivência compartilhada. Um primata que coça as costas de outro ou um gato que lambe seu parceiro, limpando áreas inacessíveis, estabelece vínculos sociais importantes. Essas ações, embora pareçam beneficiar apenas o outro no momento, geralmente retornam como cuidado ou proteção futura. Mesmo sem intenção consciente, essas práticas tendem a reforçar laços que beneficiam ambos. Quando esse retorno não ocorre, a ret...