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Mostrando postagens de janeiro, 2025

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Superstição é aquela coisa que todo mundo finge que não acredita, mas que, na hora do aperto, dá uma espiadinha de canto de olho. A ciência pode até nos dizer que não há fundamento algum em bater na madeira três vezes, evitar passar debaixo de escadas ou temer um gato preto, mas, em doses saudáveis, seguir uma tradição popular ou confiar em um pressentimento pode nos ajudar a resolver impasses, evitar caminhos incertos e, no fim, nos dar mais confiança para transitar pela vida. A verdade é que, como seres finitos e atirados ao mundo sem manual de instruções, vamos tateando a existência com as ferramentas que temos. Algumas delas são absolutamente racionais – como a matemática, a lógica e a observação empírica. Outras são mais místicas. São sinais, pequenas coincidências que, na nossa cabeça, vão costurando um significado particular para as situações. Nosso cérebro, inquieto, tece conexões entre eventos, mesmo quando elas não existem. Um guerreiro ancestral vencia a caça depois de e...

O pacto e as fendas !!

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  Grande Sertão Veredas é um livro que se lê com o corpo todo. Não basta os olhos percorrerem as palavras; é preciso deixar que a prosa de Guimarães Rosa desloque a respiração, desarrume certezas, infiltre-se pelos sentidos. A princípio, parece um monólogo—um sertanejo contando causos—mas logo se revela um redemoinho filosófico, um abismo de perguntas e constatações onde fé e dúvida, guerra e amizade, amor e pacto se entrelaçam sem promessas de resposta. O sertão aqui não é apenas geografia. Não se resume ao cerrado, ao rio seco ou às veredas que serpenteiam pelo meio da paisagem da região central do país. Ele é metáfora, palco onde se encenam os dilemas humanos em estado bruto. Riobaldo, o jagunço que narra sua própria travessia, oscila entre homem comum e filósofo sem livros. Alguém que a vida e as experiências maturaram bem e que, em sua jornada por diferentes idades, comportamentos e posições sociais, nos faz acompanhar não apenas a formação de um indivíduo, mas de um povo...

Toma lá,da cá !! Tit for Tat

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  As relações entre todos os seres, incluindo as humanas, se sustentam em um delicado jogo de trocas. Damos algo, recebemos algo. Às vezes, esperamos uma reciprocidade direta; outras, uma resposta tardia, mas ainda assim justa. Esse equilíbrio entre ajudar e recusar, entre confiar e proteger-se, é tão antigo quanto a própria ideia de comunidade. No entanto, em um mundo onde o altruísmo — a entrega sem esperar nada em troca — raramente reina soberano, a cooperação frequentemente emerge de lugares inesperados, sustentada não por pura bondade, mas por regras básicas de sobrevivência compartilhada. Um primata que coça as costas de outro ou um gato que lambe seu parceiro, limpando áreas inacessíveis, estabelece vínculos sociais importantes. Essas ações, embora pareçam beneficiar apenas o outro no momento, geralmente retornam como cuidado ou proteção futura. Mesmo sem intenção consciente, essas práticas tendem a reforçar laços que beneficiam ambos. Quando esse retorno não ocorre, a ret...