Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2025

O Não Nosso de Cada Dia

Imagem
Quantas vezes dizemos ‘sim’ quando na verdade queríamos dizer ‘não’?                 Às vezes, um “não” soa como um sopro de vento gelado, de repente, congela olhares, levanta sobrancelhas, cala conversas. Então vem aquele instante em que nos perguntamos: “Será que ultrapassei o limite?” Mas, no fundo, o ato de negar é também a coragem de abrir brechas, janelas, frestas onde um milhão de “sins” silenciosos florescem.                Fomos ensinados, desde cedo, a dizer “sim” sem pestanejar. Agradar é quase instinto, tão automático quanto respirar. Basta lembrar do tempo em que um sorriso de aprovação valia mais do que qualquer brinquedo, e a certeza de pertencer dependia de concordar. É fácil entender por que agora, na hora do “não”, sentimos pontadas de culpa ou uma culpa difusa, assim, pairando como um véu. Afinal, quem quer arriscar ser tachado de “complicado”, chato, ou negativo?  ...

Amar é...

Imagem
  O amor é um sentimento tão complexo que até definir suas nuances parece impossível. Vinicius de Moraes, em sua busca por capturar essa essência, recorre à própria palavra para explicar o inexplicável.                          “Por céus e mares eu andei Vi um poeta e vi um rei                      Na esperança de saber o que é o amor Ninguém sabia me dizer E eu já queria até morrer Quando um velhinho com uma flor assim falou O amor é o carinho É o espinho que não se vê em cada flor É a vida quando Chega sangrando                              Aberta em pétalas de amor”                                    Originalmente, o termo latino se aplicava à afeição, à preocupação e ao desejo por al...

O treinamento da sétima função

Imagem
   A  premissa de Quem Matou Roland Barthes?, de Laurent Binet, é irresistível: e se o acidente fatal do semiólogo francês não fosse um mero infortúnio, mas um assassinato? O motivo? Um manuscrito contendo a lendária sétima função da linguagem, um poder tão absoluto que permitiria persuadir qualquer um a fazer qualquer coisa. Um thriller filosófico e uma sátira mordaz do meio acadêmico francês dos anos 1980, o livro desfila por uma Paris habitada por gigantes do pensamento — Foucault, Derrida, Eco, Kristeva —, mas os veste de caricaturas, o que desperta tanto encanto quanto críticas acaloradas. Foucault aparece como um excêntrico hedonista, Derrida é o mestre da verborragia indecifrável, assim como Lacan, Kristeva assume um tom conspiratório, e Eco, bom, Eco parece estar sempre dois passos à frente da trama. São figuras grandiosas equilibradas entre o tributo e a zombaria. A crítica ao exagero do meio acadêmico tem seu charme, mas alguns consideram ter ido longe demais. A...